Curiosidades Catch-22
Neste episódio somos confrontados novamente com os flashes de Desmond, ele mais uma vez vê a morte de Charlie a acontecer mas desta vez acompanhado de flashes que lhe revelam a chegada de alguém à ilha, alguém que ele acredita ser Penny. Contado com este ultimo episódio poderemos separar as visões de Desmond em três. A primeira “experiência temporal” acontece quando Desmond roda a chave do sistema de segurança. Nesta ele revive acontecimentos passados, encontra Hawking que lhe diz ser impossível mudar o destino, uma vez que o universo sempre faz o course-correcting, e que o destino dele é chegar à ilha, à escotilha e finalmente à tecla (segundo ela, a única coisa realmente importante que ele alguma vez fará). Desmond pretende demonstrar que Hawking está errada indo pedir Penny em casamento mas acaba por seguir o seu destino ao não lhe entregar o anel. No entanto, no bar Desmond não segue o curso normal da sua história ao impedir um homem de levar com o bastão, acaba por ser ele o atingido e acorda na ilha. Na sua segunda “experiencia temporal” Desmond vê Charlie repetidamente a morrer. Podemos dizer que, aparentemente, o universo quer que Charlie morra, então se as visões são fornecidas por algo ou alguém, esse algo ou alguém não deseja que essa morte se concretize. Na sua terceira “experiência temporal” Desmond tem mais uma visão de Charlie a morrer mas desta vez a sequência de eventos tem como resultado aquilo que ele mais quer (o reencontro com a Penny). Desmond passa acreditar que para esse reencontro seja possível ele precisa que as suas visões sejam cumpridas na totalidade, ou seja, ele tem de deixar Charlie morrer. No entanto, numa das visões de Desmond vemos Charlie a segurar o pára-quedas para amparar a queda do piloto. Desmond diz que não sabe a ordem dos flashes mas sabemos que este é após o flash da morte de Charlie, tirando a hipótese de erro de produção (que não parece muito viável) podemos considerar que Desmond vê flashes não só de uma “versão” do futuro mas das diferentes possibilidades futuras. O Desmond acaba por salvar Charlie novamente o que segundo Desmond levaria a que todos os acontecimentos fossem alterados, no entanto isso não impediu que ele encontrasse Naomi e com ela a esperança de salvamento. A presença de Charlie junto do pára-quedas na visão indica-nos que era o destino de Desmond, salvar mais uma vez a vida de Charlie, mas então para quê a visão de ele a não impedir a morte de Charlie, seria realmente um teste da ilha? Saber se ele era merecedor da esperança de uma esperança de salvamento. Caso ele tivesse deixado Charlie morrer teriam encontrado Naomi com vida? Curioso é que Desmond “engana o destino” da mesma forma que o fez no Flashes Before Your Eyes, com o homem que ia levar com o bastão: “Duck!”. Deus pediu a Abraão para sacrificar a pessoa que mais amava, o seu filho Isaac. E Abraão estava disposto a fazê-lo, mas, no último instante, foi impedido por um Anjo de Deus. Abraão passou assim o seu teste de fé e colocou o seu povo e o seu filho nas boas graças de Deus. Neste caso, quem é o sacrifício do Desmond? Sacrificar Charlie para terem uma hipótese de salvação e de reunião com Penny. Esta é a hipótese que surge imediatamente com maior validade e é também o que Desmond pensa e neste sentido acredita ter falhado o teste. No entanto agora o objectivo do teste e do próprio sacrifício parece ser outro, o encontro com Penny. Ele sacrifica a hipótese de um reencontro com Penny para salvar a vida de Charlie. Esta hipótese parece fazer mais sentido, pois, tal como Abraão, o Desmond é recompensado no final: a Naomi está viva, assim como a esperança de voltar a ver a Penny. Tal como Isaac, Penny é a pessoa que Desmond mais ama. Se Desmond foi alvo de um teste, algum poder superior criou esse teste. Será que esta visão tem a mesma origem das outras? É que as outras parecem ser um “poder” do Desmond, uma habilidade especial que ele adquiriu após a implosão da escotilha. Esta visão é também composta por flashes do futuro, mas não termina com o Charlie a morrer, termina sim com a ideia de um possível reencontro com a Penny. Talvez uma forma de aliciar o Desmond a deixar o Charlie morrer? Nesse caso, a origem desta visão não pode ser mesma, porque as outras visões têm como objectivo evitar que o Charlie morra. Hawking e Campbell Nos flashbacks de Desmond, vemos que o Irmão Campbell tem alguma ligação com a Hawking. Assim como Hawking, Campbell diz-lhe para seguir o seu caminho, o seu destino. Ambos parecem ter como função manter o Desmond no seu caminho, de modo a que ele cumpra o seu destino. Foi graças ao Irmão Campbell que o Desmond conheceu a Penny. Se não tivesse conhecido a Penny, não teria feito a corrida à volta do mundo, não teria ido parar à Ilha, não teria marcado o código no Cisne. Desmond têm, no entanto, constantemente seguído o seu próprio caminho. Não era suposto ter virado a chave do sistema de segurança, não era suposto salvar o Charlie, não era suposto salvar o homem no bar. Livro Catch-22 Desde logo vemos que a Naomi traz o Ardil-22, uma versão em brasileiro que indica uma possível relação com os brasileiros no final da season 2. Catch-22 é um livro de Joseph Heller sobre as missões de bombardeamento durante a Segunda Guerra Mundial. No livro, Catch-22 é uma regra que diz que, se um soldado sofre de insanidade, tem de ser afastado do exército. Contudo, se um soldado tentar provar que sofre de insanidade, então está são, pois, naquela situação, a única atitude sã seria deixar as perigosíssimas missões de bombardeamento. Só uma pessoa louca participaria de livre vontade nestas missões e só uma pessoa sã tentaria provar que sofre de insanidade para se tentar salvar. Deste modo, a atitude louca é não ser louco e ser louco é a atitude sã. Este tipo de lógica circular acaba por levar ao conceito de “no-win situation” ou de duas situações que dependem uma da outra para ocorrerem. Neste episódio, Catch-22 refere-se ao paradoxo da predestinação – Desmond só levou a cabo aquela sequência de eventos porque visualizou flashes dos mesmos, mas os próprios flashes não teriam ocorrido se Desmond não tivesse executado os eventos. Carlisle Desmond e Penny falam de um local denominado Carlisle, uma cidade na zona noroeste de Inglaterra, junto à fronteira com a Escócia. Carlisle é desde logo uma possível referência ao apelido de Boone (Carlyle), com pronunciação idêntica. No folclore tradicional, conta-se a história da “Dama de Carlisle”, que só se entregaria a um homem que provasse ser de grande honra e nível. Dois homens lutaram pelo seu coração, um soldado e um marinheiro. A Dama de Carlisle atirou o seu leque para o covil de um leão e disse que o homem que lhe devolvesse o leque seria o dono do seu coração. O soldado não quis arriscar, mas o marinheiro teve a coragem para o fazer e conseguiu sobreviver. Desmond é simultaneamente o soldado e o marinheiro. Depois da sua experiência militar, Desmond, como soldado, foge (novamente) de Penny, quando esta o procura junto ao estádio onde Desmond e Jack treinavam. Já como marinheiro na corrida à volta do mundo, Desmond arrisca a sua vida para tentar provar que é digno de Penny. Campbell vs Hume George Campbell foi, tal como David Hume, um dos filósofos mais importantes do Iluminismo Escocês e também ministro presbiteriano. Campbell desafiou a posição de Hume perante os milagres. No que toca a milagres, Hume defendia uma posição céptica perante o testemunho, dizendo que este deveria ser analisado com base em registos de experiências directas. Ou seja, sempre que se testemunhava um evento, esse testemunho deveria ser comparado com testemunhos passados que provaram ser verdadeiros ou falsos. Se um testemunho parecesse improvável, o próximo passo seria questionar a veracidade do mensageiro. Campbell escreveu a Dissertação dos Milagres para provar que Hume estava errado, referindo que faz parte da natureza humana aceitar o testemunho de forma não crítica e que o cepticismo só se desenvolve numa fase mais tardia da vida. Em Lost, Charlie aceita o testemunho de Desmond sobre a sua morte de forma não crítica, enquanto que Desmond remete a importância para a sua experiência dos acontecimentos, onde pode alterar o resultado final. O que isto significa é que algo que na verdade não existe – a morte de Charlie – está a ter um impacto profundo na vida de todos os Losties, o que remete novamente para o livro Catch-22. A conclusão que podemos tirar do livro é que o “catch”, o “ardil”, não existe verdadeiramente, mas tem consequências materiais na vida de todos. De facto, a morte de Charlie pode nunca vir a acontecer e tudo não passa de um teste, ou armadilha, montada a Desmond. Etiquetas: Curiosidades |