O Significado dos Números
O vídeo do Sri Lanka está finalmente completo e a prometida revelação do significado dos Números confirmou-se, mas talvez não da forma que esperávamos. Antes de analisarmos em detalhe o vídeo do Sri Lanka, vamos fazer um pequeno resumo das questões mais relevantes que surgiram com as investigações de Rachel. Em conversa com Armand Zander, director do Instituto Vik, Rachel toma conhecimento da existência da equação Valenzetti e dos Hieróglifos. Segundo Zander, na cave do Instituto Vik, doentes autistas com síndrome de Savant (designados por "savants") executavam a equação repetidamente. Qual seria o objectivo desta experiência? Entretanto, Rachel descobre que a Hanso Foundation encomendou um navio "especial" às Indústrias Paik. No apartamento de Hugh McIntyre e Darla Taft, Rachel descobre que o navio, de nome Helgus Antonius, é um navio hospital com vários contentores marcados com "QUARENTENA". Qual seria a função destes contentores e porque necessitaria a Hanso de um navio hospital? O navio dirigia-se para o Sri Lanka, onde, segundo Darla, a Hanso praticava actividades ilícitas. No post anterior, mencionámos uma "vacina" que Mittelwerk refere no vídeo do Sri Lanka, aparentemente um embuste para a realização de testes com um vírus produzido pela Hanso. Este vírus está a ser utilizado em populações do Sri Lanka e pode estar relacionado com o preparado desenvolvido pelo Dr Hackett. As poucas informações que conhecemos sobre Hackett foram-nos dadas por Mel0Drama e, como o utilizador ? indicou nos comentários, existe um vídeo de Mel0Drama no Youtube que poderá conter mais informações úteis: A tradução do que Mel0Drama diz em linguagem gestual será algo do género: "Eu sou o Mel, amigo de Rachel. Mittelwerk enganou a Apollo Candy para obter os seus químicos e realizar testes em [desconhecido]. Hackett descobriu algo importante mas Mittelwerk não o deixa [ficou irritado], porque não quer competição. Existiu um grande conflito e Hackett desapareceu com Sprite. Hackett descobriu algo que pode usar. Eu preciso de [avisar/salvar/ajudar] as pessoas." Este vídeo confirma que Hackett não colabora com a Hanso Foundation, mas que Mittelwerk terá conseguido obter o preparado e o estará a utilizar na sua "vacina". Curiosa é a possível relação entre a vacina de Mittelwerk e a vacina encontrada por Charlie na escoltilha, como refere o nosso comentador Bogus: "Quando li um dos comentários do Keast sobre as vacinas, pensei que até faz sentido as vacinas serem usadas para limparem os pecados da humanidade, independentemente de terem um efeito temporário ou não. Ao serem vacinados, o Charlie deixou de consumir e o Aaron ficou livre de pecados. Para quem viu ou reviu o episódio de ontem "Fire + Water", centrado no Charlie, eu compararia a vacina ao baptismo, segundo as palavras do Mr. Eko. Pecados, como tudo o que impede a existência de uma utopia." Este comentário vem no seguimento da ideia que tinhamos deixado no último post, de que a Hanso poderá estar a tentar moldar a humanidade à sua imagem. Contudo, nos últimos fragmentos, Mittelwerk fala em "mortes", pelo que a natureza das experiências poderá ser um pouco diferente. Passemos então, sem mais demoras, à versão final do vídeo do Sri Lanka (legendado): Como podemos ver no vídeo, os Números são os valores numéricos dos factores humanos e ambientais nucleares na equação Valenzetti. Esta explicação não é de todo surpreendente e já vinha sendo sugerida há algumas semanas. A equação Valenzetti, como equação estatística que é, necessita de factores para calcular aquilo que pretende prever, isto é, o número de anos e meses até à extinção da humanidade. Estes factores definem, de alguma forma, a evolução e estado actual da humanidade, podendo ser de dois tipos: ambientais e humanos. Provavelmente, dada a complexidade associada ao estudo da evolução da humanidade, estes factores existirão em grande número na equação, mas apenas seis são considerados nucleares. Através dos seus cálculos, Valenzetti determinou o valor de cada um destes factores, obtendo assim uma representação do estado actual da humanidade, isto é, "4, 8, 15, 16, 23 e 42". Não sabemos quais são estes factores, nem tão pouco como distinguir entre os dois tipos, humanos e ambientais, e é notório que as explicações dadas no filme de Orientação de 1975 são intencionalmente vagas. Contudo, uma reflexão mais cuidada sobre este filme pode-nos ajudar a compreender vários aspectos da mitologia da série. Começemos pelo facto de os Números surgirem com muita frequência na vida de todas as personagens da série, como foi o caso das camisolas no aeroporto de Sidney e das viaturas da polícia de Los Angeles: Este aspecto poderá ser facilmente explicado se pensarmos que os Números representam o estado actual da humanidade, sendo natural que surjam nos mais variadíssimos locais e que sejam recorrentes na história da civilização humana. Mais, sendo os Números a representação dos factores que determinam a extinção da humanidade, a eles estão associados todos "os males do Mundo", o que faz com que a sua utilização seja perigosa e esteja sempre associada a acontecimentos negativos (o azar de Hurley, a desgraça de Sam Tooney, etc). Os Números parecem ter também uma espécie de "poder", que nem a Hanso nem Valenzetti compreendem na totalidade. Mas quais serão os factores que os Números representam? Curiosamente, Hanso menciona seis "vias" que poderão levar à extinção da humanidade: fogo nuclear, armamento químico e biológico, armamento convencional, pandemia, excesso de população e fome. Estes poderão ser os factores nucleares na equação, mas também podemos pensar nas áreas de investigação da Dharma: meteorologia, psicologia, parapsicologia, zoologia, electromagnetismo e socialismo utópico. Contudo, parece-nos que estas seis áreas de investigação serão, não os factores, mas sim as possíveis soluções. De facto, fica claro neste vídeo o grande objectivo da Dharma Initiative: efectuar modificações no ambiente isolado da Ilha, de modo a conseguir alterar os factores nucleares da equação (o valor dos números) e, consequentemente, salvar a humanidade. Hanso parece insistir que apenas os factores ambientais seriam manipulados no projecto, deixando de fora os factores humanos. Deste modo, é razoável assumir que os factores ambientais envolvem, não só a meteorologia, zoologia e o electromagnetismo, como também aspectos mais sociais, isto é, psicologia, parapsicologia e socialismo utópico. Os factores humanos estarão mais relacionados com alterações genéticas no ser humano e a sua manipulação seria certamente de ética questionável. As estações são construídas na Ilha e a cada uma terá ficado associado um factor a alterar. Para assegurar o secretismo e segurança do projecto, os cientistas enviados para a Ilha são impedidos de realizar qualquer comunicação com o exterior. Contudo, a Hanso necessitava de uma forma de medir o sucesso das experiências. Uma forma súbtil de o fazer seria através da transmissão de rádio, que teria sempre o valor actualizado dos factores nucleares da equação. Se um ou mais valores fossem alterados, a transmissão de rádio seria também ela modificada. Como apenas os membros da Dharma conseguiriam compreender esta mensagem (os números podem ser a tal "encriptação" de que Hanso fala), a segurança e secretismo do projecto não seriam comprometidos. Para terem a certeza de que um dos factores tinha sido alterado com sucesso, os cientistas necessitavam de uma forma de testar as modificações ambientais. Não tendo à disposição os savants de Mittelwerk, terá sido criado um simulador da equação Valenzetti na escotilha Cisne, um sistema informático complexo ao qual estava ligado um terminal. Neste terminal deveriam ser introduzidos os valores dos factores nucleares da equação. Quando os cientistas conseguissem modificar um destes valores e introduzissem o novo código, o simulador do Cisne iniciaria uma contagem decrescente, estabeleceria todas as condições necessárias e faria uma previsão do que iria acontecer no "mundo real". É ai que entram os hieróglifos. Armand Zander disse que os hieróglifos faziam parte da equação, mas não explicou se se tratavam de variáveis, do resultado da equação, ou de qualquer outra coisa. Seguindo a ideia do simulador, o mais provável é serem o resultado da equação. Por este motivo, um dos resultados possíveis seriam os hieróglifos que já conhecemos, que simbolizam o fim da humanidade, isto é, "MORTE". A verdade é que tudo parece indicar que todas as experiências da Dharma falharam e estes factores nunca foram alterados. Mais, a Dharma não só não alcançou os seus objectivos, como também sofreu um "incidente". Não podemos dizer quem ou o quê causou este problema (os suspeitos mais prováveis são "a Ilha", os Outros e Rousseau), mas parece razoável assumir que o incidente está relacionado com uma falha do simulador. Depois desta falha, os membros da Dharma foram obrigados a cobrir uma parte do Cisne com cimento e a estabelecer o protocolo de marcação do código. O simulador terá ficado num ciclo infinito, iniciando repetidamente a simulação e, para evitar a ocorrência de problemas com a energia electromagnética armazenada, torna-se necessário reiniciá-lo a cada 108 minutos. Poderemos perguntar porque razão a Dharma Initiative não terá desligado imediatamente o sistema após o incidente. Talvez ainda existisse uma esperança de que os factores fossem alterados e o simulador devolvesse um resultado positivo. Destruir o simulador significaria acabar definitivamente com essa esperança. Assim, Desmond, ao manter o sistema funcional, estava de facto a salvar o Mundo. Ao rodar a chave, Desmond desligou para sempre o sistema e a libertação de energia electromagnética foi tão forte, que acabou por ser detectada pelos homens na estação de observação. Outro questão interessante é porque razão a Hanso cancelou o projecto. Continuando a admitir que a única forma de comunicação entre a Ilha e o exterior seria através da transmissão de rádio, quando Rousseau altera esta transmissão, os responsáveis pela Hanso terão percebido que algo muito errado se passava. O projecto é cancelado e são contratados militares (Kelvin), que foram enviados para a Ilha com o objectivo de averiguar o estado das experiências. Depois de a Dharma ter falhado, Mittelwerk toma o assunto em mãos. Começa por tentar modificações ambientais fora da Ilha, utilizando os savants como simulador da equação, mas falha. Perante a tirania dos Números, Mittelwerk percebe que só lhe resta uma solução: manipular os factores humanos. De alguma forma, consegue obter o preparado de Hackett e introduz o mesmo no vírus. As populações do Sri Lanka são apenas o ponto de partida para espalhar o vírus à escala global. 30% da população mundial não irá conseguir resistir às modificações genéticas. E os corpos dos indíviduos, que sucumbirem no Sri Lanka, serão colocados em Quarentena no Helgus Antonius, de modo a não comprometer o projecto. Este poderá ter sido o ponto de clivagem entre Hanso e Mittelwerk: se a ética do primeiro não lhe permitiu manipular esses factores, já o segundo é capaz de o fazer, pois sabe que não lhe resta outra alternativa. Terá sido este conflito de ideologias que levou ao afastamento de Hanso. Será que podemos dizer que Mittelwerk é "mau", por ter tomado esta atitude? Mais uma vez, tudo se resume ao conflito entre Ciência e Fé, um tema recorrente na série. Será que devemos escolher a ciência e deixar Mittelwerk matar 30% da população mundial de modo a alterar os valores nucleares da equação Valenzetti e, em teoria, salvar a humanidade? Ou deveremos travar Mittelwerk e ter fé no ser humano, correndo o risco de não conseguirmos salvar o Mundo? Se escolhermos a primeira hipótese, nunca teremos a certeza absoluta de que a extinção seria uma realidade. Se escolhermos a segunda hipótese, saberemos se estávamos ou não errados, mas não teremos tempo para viver com o nosso erro. No próximo post sobre a Lost Experience, apresentaremos uma teoria alternativa sobre o resultado das experiências da Dharma, onde iremos explicar porque razão a Ilha curou Locke e Rose. Gostaríamos ainda de agradecer a todos os comentadores do nosso blog, do blog The Lost Experience Clues e do The Fuselage, pelas excelentes ideias que nos deram e que permitiram formular a teoria que aqui apresentamos. Etiquetas: Dharma, Lost Experience, Números |