Curiosidades do Stranger in a Strange Land
Este post não será tanto uma apresentação das curiosidades de Stranger in a Strange Land mas sim a apresentação de algumas teorias que surgiram após a exibição do episódio. Estas teorias foram sugeridas por J. Wood, autor do livro Living Lost: why we are all stuck in the island em PowellsBookBlog. O próprio autor no seu livro desaconselha o olhar demasiado minucioso para os acontecimentos na ilha que pode levar a encontrar referências em quase tudo. Geralmente é necessário ter uma série de provas e indícios para apoiar qualquer teoria que se apresente e este parece ser o caso. O título do episódio referencia o romance de Robert Heinlein (1961) Stranger in a Strange Land. A narrativa de ficção científica é acerca de um homem chamado Michael Smith que foi criado por extraterrestres em Marte, e regressa à Terra já adulto. Ele não entende a linguagem humana, as regras, práticas sexuais, direitos de propriedade, e tem habilidades super humanas desenvolvidas em Marte, que parecem mágicas aos olhos dos outros, mas que se tratam de ciência. Importante será a igreja que Smith acaba por criar para reparar as falhas da humanidade, a Fosterite Church of the New Revelation (Igreja Fosterite da Nova Revelação)- reparar as falhas da humanidade é também um dos lemas da Dharma Initiative. A igreja de Fosterite torna-se um poder cultural enorme mantendo-se, no entanto, a sua linha de actuação misteriosa e esotérica. O lado místico do romance de Heilein tem semelhanças com um culto pré-Maçónico denominado Ordem Rosacrucianista. Os ensinamentos de Smith ecoam a ideia encontrada no Budismo de que o divino ou as divindades são encontradas em todo o lado e em todos, é só uma questão de o sentir. Vemos várias vezes os membros da Dharma a curvarem-se com o sinal "Namaste" uns perante os outros, o que será uma das formas de reconhecimento da divindade na outra pessoa. O titulo do episódio também nos remete para Exodus 2 (nome do último episódio da primeira temporada), onde Moisés encontra um sacerdote de Midiã e tem um filho com umas das filhas do sacerdote. Chamam ao filho, Gershom, que significa estranho (stranger) ou estrangeiro, porque como Moisés diz "I have been a stranger in a strange land" (tenho sido um estranho numa terra estranha). Moisés, como sabemos, foi o líder exilado dos Israelitas, um indivíduo zangado, e que nunca realmente foi um deles. Quando os Israelitas se queixam de sede, Moisés fica irritado e queixa-se a Deus. Deus manda Moisés bater numa rocha com um cajado e água flui dela, mas, devido ao seu temperamento e a acreditar ser essencial aos Israelitas, Moisés é expulso da Terra Prometida. Afinal, a única pessoa que Deus diz Amar na Bíblia é Jacob, outra figura bíblica referenciada quando Karl murmura uma das frases que aparecia no quarto de estimulação, “Deus ama-te com amou a Jacob”. Jacob, antepassado de Moisés, era, entre outras coisas, um trapaceiro – Deus ama um comediante, ou, talvez, apenas uma boa piada. Em Moisés temos um líder alienado com um temperamento irritável e isto faz-nos lembrar Jack. Jack e Moisés partilham também a característica de se sentirem como residentes estrangeiros no grupo. Moisés foi criado como Egípcio, mas era na realidade Judeu. Ele nunca foi um Egípcio, e quando sai do Egipto como líder, ele nunca realmente foi um dos escravos Judeus libertos. Sigmund Freud levou mais longe esta análise no seu livro "Moisés e o Monoteísmo", onde argumenta que Moisés sempre foi um Egípcio, mas pertencente a um grupo restrito de Egípcios monoteístas, separado dos politeístas que governavam os Judeus. Da mesma forma, Jack nunca se sentiu familiarizado com o ambiente que o rodeou durante o seu crescimento ou em idade adulta e revoltou-se contra o seu pai. Mas, mesmo quando deixa esse ambiente estranho para trás (rumo a Phuket e, mais tarde, à Ilha) ele também não consegue adaptar-se ao seu novo grupo. O que nos traz à tatuagem de Jack. Embora ainda não saibamos a história de toda a tatuagem, sabemos que parte dela foi feita por Achara, uma artista em Phuket cujo trabalho “não é privação, mas definição”. Achara tem o dom de ver quem as pessoas realmente são, e marca isso na pele da pessoa. No Hinduísmo, Achara é a mais alta forma de Dharma o que pode indicar uma ligação da artista à Dharma Initiative. De qualquer forma, Jack está marcado, assim como Juliet e a sua marca cauterizada. A marca de Juliet é semelhante a um asterisco com um traço mais longo no cimo e raio extra a cortar o meio. A marca de Juliet não aparece como símbolo regular em nenhuma das religiões associadas com a narrativa de LOST, mas parece-se com uma cruz Rosacruciana virada ao contrário, o que nos leva de volta para o romance de Heilein. Os Rosacrucianos eram um sector místico de ocultistas do século 17 na Europa Central que seguiam um alemão chamado Christian Rosenkreuz. Hoje em dia, ainda existem sectores, um deles denomina-se Golden Dawn (Amanhecer Dourado)e inclui membros como William Butler Yeats. Rosenkreuz incorporou nos Rosacrucianos ensinamentos do Sufismo, Cabala, Gnosticismo, Alquimia, Astrologia e Numerologia. Os Rosacrucianos aparecem também no livro “O Pêndulo de Foucault” de Umberto Eco, sendo a narrativa um exercício de histórias complexas, audiências expectantes e conhecimento esotérico. Parte do jogo do livro consiste no facto de ao leitor ser apresentado um conhecimento tanto factual como histórico e uma interpretação criativa desse conhecimento, para que o leitor tenha de procurar pela realidade escondida por detrás do que é apresentado. É um exercício de heurística (DHARMA: Departamento de Heurística e Pesquisa em Aplicações Materiais). A Cruz da Rosa não era tanto um símbolo cristão como uma ferramenta oculta. A forma da Cruz obtida pelo cruzamento de linhas e letras era usada para tentar afectar alguma mudança material no mundo. Algo semelhante acontece nas cartas astrológicas gnósticas, onde, dependendo dos factores inseridos, um padrão com características semelhantes ao obtido na cruz é traçado. Uma ordem moderna americana Rosacruciana denominada Irmandade Rosacruciana (1911) criou a seguinte carta quando preparou caminho para a sua fundação na Califórnia. Compare a seguinte carta com o mapa que estava presente nas portas de explosão da escotilha. Parece portanto haver uma ligação entre os Rosacrucianos e a marca de Juliet. Mas ainda temos o seguinte, os Rosacrucianos eram seguidores do matemático grego Pitágoras que tinha uma cosmologia muito mística. Pitágoras acreditava na transmigração de alma, geometria sagrada, e que conceitos e matérias podiam ser representados matematicamente. Neste ponto, devemos lembrar-nos da equação de Valenzetti, pois é exactamente isso que cada um dos números 4 8 15 16 23 42 representam. “Stranger in a Strange Land” não nos levou mais fundo na mitologia do programa mas ofereceu alguns indícios intrigantes. Como o próprio autor da teoria o diz, estas suposições podem estar completamente erradas, mas existem sinais a apontar na direcção ao apoio destas. E, mesmo que a teoria esteja errada, isto é parte do divertimento de LOST, cair no buraco do coelho sem saber onde ele vai dar. Etiquetas: Curiosidades |