Obras Literárias - Parte Dois
O primeiro livro que temos oportunidade de ver na terceira época surge logo nas primeiras cenas da temporada. Na casa de Juliet, uma série de membros dos Outros juntam-se para um clube de leitura onde comentam o livro escolhido por ela, Carrie de Stephen King. Carrie é um livro de terror escrito em 1974. Conta a história de Carrie White, uma rapariga calada e desajustada da sua escola, que é atormentada impiedosamente pelos seus colegas e excluída por eles devido ao seu passado excêntrico (a sua mãe é uma fanática religiosa). Alguns dos estudantes são punidos e um mostra-se simpático com ela, pedindo ao namorado dela para a levar ao baile de formatura no lugar dele, mas alguns deles querem vingança e criam um plano maligno para a humilhar. O que nenhum dos estudantes sabe é que Carrie tem o poder de telecinesia. Quando fica irada, transforma-se de uma rapariga inocente num monstro guiado pela fúria, transformado o baile num evento que ninguém irá esquecer. Juliet diz que este é o seu livro favorito. Ela foi trazida para a Ilha e mantida lá contra a sua vontade. Ele é uma intrusa entre os Outros, assim como Carrie na sua escola, porque é diferente e não se ajusta. Mas ela não é uma rapariga vulgar, é especial (como Richard e os Outros lhe estão sempre a dizer). Carrie tem a telecinesia, Juliet consegue que mulheres inférteis engravidem. Porque os estudantes a atormentam, Carrie quer vingar-se, talvez Juliet também procure a vingança como retaliação por a manterem na ilha. Talvez essa seja uma das outras razões por se ter juntado a Jack e aos Losties. O título deste primeiro episodio é também uma referência a uma obra literária, A Tale of Two Cities de Charles Dickens. Este trata-se de um romance moral fortemente dedicado a temas de ressurreição, culpa, esperança, vergonha, redenção e patriotismo. A fonte principal de Dickens foi o livro “A Revolução Francesa: A História” de Thomas Carlyle. As reviravoltas da história são sinuosas. Originalmente escrito como um romance seriado para jornais, os seus capítulos abriam e terminavam com grande carga dramática e mistério. A história é também contada de maneira a revelar ambos os lados da revolução francesa. No episodio “Every Men For Himself” o livro que está presente é Of Mice and Men, um romance da era da Depressão escrito por John Steinbeck e centrado à volta de dois amigos que tentam poupar dinheiro suficiente para começar a sua própria fazenda e deixarem de estar sujeitos a desmandos de patrões. George, com a cabeça mais virada para o negócio, também toma conta de Lennie, cuja falta de habilidade tende a afectar os seus grandes planos. Este livro critica o Sonho Americano, e todos os sonhos em geral, sugerindo que, no final das contas, acabam todos por fúteis. Um dos temas centrais do romance e de LOST (especialmente Sawyer), é o isolamento e a procura de um lugar ao qual pertencemos quando somos diferentes. Ben enfatiza este ponto quando mostra a Sawyer que estão numa ilha isolada mais pequena, fala dos seus sentimentos suprimidos por Kate, e depois cita o livro: “um homem fica doido se não tem ninguém. Não faz qualquer diferença quem o homem é, desde que ele esteja contigo. Eu digo-te, eu digo-te, um homem fica demasiado sozinho, e fica doente.”. Também presentes no livro, são os sonhos e visões frequentes de Lenny com coelhos. O episódio parece fazer referência a este ponto na cena de tortura psicológica a Sawyer. Noutro paralelismo ao universo de LOST, o apelido do autor, Steinbeck, foi uma das palavras passe para aceder ao site retrieversoftruth.com durante a LOST Experience. No episódio Not in Portland encontramos Aldo, um dos Outros, a ler A Brief History in Time de Stephen Hawking. Este é um popular livro de não-ficção cientifica que é escrito de modo a que o tema esotérico da astrofísica (e teorias sobre como o universo começou) seja acessível a leigos, utilizando, portanto, o mínimo de termos técnicos. O livro começa com uma introdução aos conceitos da física como a gravidade e buracos negros, e termina com uma análise e procura de uma única teoria unificadora. No post Curiosidades Not in Portland podem encontrar uma análise acerca da presença deste livro no episódio e as teorias que surgiram dessa presença. Durante a ausência de Sawyer no acampamento, Charlie e Hurley vão ate aos seus mantimentos e, entre outras coisas, encontram o livro Laughter in The Dark de Vladimir Nobokov. Este romance conta a história de Albinus, um respeitável homem de meia-idade e aspirante a realizador que abandona a mulher por uma amante com metade da sua idade, Margot, que quer ser uma estrela de cinema. Quando Albinus a apresenta a Rex, um produtor americano de cinema, o desastre vem a seguir. O que emerge é um romance elegantemente sarcástico e irresistivelmente irónico acerca do desejo, traição, e decepção, uma história curiosa que se passa no mundo cinematográfico de Berlim dos anos 30. O episódio Stranger in a Strange Land faz no seu titulo alusão ao livro de ficção científica com o mesmo nome de. Neste post Curiosidades Stranger in a Strange Land poderão ler uma análise do livro em paralelismo com a história de LOST. Considerado por muitos como o melhor dos mistérios de Agatha Christie, Evil Under The Sunset foi mais um dos livros que Sawyer leu na ilha. Este conto macabro não perdeu nenhuma da sua fresca intriga desde que foi publicado pela primeira vez em 1940. Usando uma fórmula de enredo que desde então se tornou norma no mundo do mistério, Christie tem todas as personagens numa localização na qual é difícil sair, neste caso Jolly Roger, um hotel de férias na costa sul da Inglaterra. Uma das hóspedes, uma linda e namoradeira rapariga, é estrangulada até à morte e o famoso detective Hercule Poirot toma em suas mãos a resolução do caso. Cada uma das personagens é suspeita, e os leitores estão constantemente a mudar as suas apostas em quem será o vilão da história. Podemos ver aqui alguns paralelismos com LOST, onde também as personagens estão situadas numa localização de difícil acesso, são confrontadas diariamente com situações que os tornam a todos suspeitos aos olhos dos telespectadores e dos próprios companheiros na ilha, e também, como na história de Christie, não há uma certeza acerca de quem é o verdadeiro vilão da história, de quem está realmente inocente ou não. Catch-22 é um livro escrito por Joseph Heller. Passa-se durante a Segunda Guerra Mundial, e dá-nos um ponto de vista satírico sobre o absurdo do conflito. O livro centra-se principalmente no Capitão Yossarian. Este romance é muitas vezes considerado uma das grandes obras literárias do século XX. É famoso pela sua estrutura circular, não linear, com flashbacks dentro de flashbacks e nenhuma distinção claro do “eventos em tempo real”. Alguns acontecimentos, particularmente um que envolve a morte de um jovem piloto, Snowden, são repetidos várias vezes ao longo da história, ganhando mais detalhes a cada repetição. Enquanto seguia uma das suas visões, Desmond lidera Hurley, Charlie e Jin através da floresta. Eles ouvem um helicóptero a despenhar-se no oceano e penetram na floresta em busca de sobreviventes. Eles localizam uma mochila com bens pessoais, incluindo a edição brasileira de Catch-22 (Ardil-22). Como em LOST, um dos temas principais do livro lida com personagens a quererem escapar de um ilha para voltar para casa. Embora não literalmente aprisionados na ilha, como em LOST, a ilha Pianosa no livro é a base de operações do esquadrão, e as personagens estão presas a ela. Outra similaridade é a estrutura não linear de que já falamos, o uso de flashbacks que nos permitem conhecer com mais detalhes as personagens e o enredo de LOST. O próprio título de livro vem de uma ideia de que as personagens estão numa situação “preso por ter cão, preso por não ter”. Os soldados, Yossarian e companhia, apenas podem deixar as suas missões se forem considerados loucos, no entanto eles, logo à partida, têm de ser loucos para continuar a voar nas missões. Portanto se forem considerados loucos, são considerados capazes para voar, e se não forem considerados loucos, são naturalmente considerados capazes. O mesmo se pode dizer em vários episódios da série. Desmond sabe que Charlie vai morrer e tem que, por mais de uma vez, escolher entre a vida dele e a possibilidade de salvamento do grupo. Numa primeira situação, decide sacrificar o salvamento ao salvar Charlie e, na segunda, Charlie acaba mesmo por morrer pelo grupo. Também Sun é confrontada com duas possibilidades. Primeira, que o seu bebé seja filho de Jae Lee, significando que não corre risco de vida. Segunda, que o pai é Jin, mas significando que o bebé foi concebido na Ilha e tanto ela como a criança correm risco de vida. No livro é dada a escolha a Yossarian de ir para casa, saindo da ilha, e essencialmente mandando o seu esquadrão continuar a voar missões suicidas, ou ficar e lutar ao lado deles e revelar a verdade acerca dos Generais que os estão a manter na ilha. Esta decisão é colocada também a duas personagens de LOST. A Michael é dada a missão de libertar Benjamin Linus (o que levou à morte de Ana Lucia e Libby) e levar quatro dos seus companheiros para uma emboscada de modo a poder sair da ilha com o filho. Ele aceita. Mais similar a Yossarian, a Jack é dada a hipótese de salvar Benjamin através de uma cirurgia e sair da ilha ou salvar os amigos. Jack, como Yossarian, opta pela terceira hipótese. Yossarian foge para a Suécia enquanto Jack opta por cortar Benjamin durante a cirurgia e exigir a liberdade dos amigos. Watership Down é um livro que originalmente pertencia a Boone e o qual Sawyer lê na ilha, ele leu-o nos primeiros tempos na ilha mas é visto novamente com ele no episódio Left Behind. Watership Down é um romance de Richard Adams e foi publicado pela primeira vez em 1972. Trata-se de um comentário social feito usando um grupo de coelhos como personagens principais, e fazendo a crónica da sua procura por um novo lugar para viverem depois de escaparem por pouco ao envenenamento e escavação das suas tocas. No curso da busca de novo local para as suas tocas, eles encontram uma suposta utopia, onde os coelhos são acarinhados e alimentados até a apatia por um agricultor local. No entanto eles apercebem-se que estas tocas estranhas são uma armadilha, uma vez que o agricultor tem montadas armadilhas em toda a área. Mais tarde no livro o grupo encontra um bom local para assentar, mas precisa de coelhas para continuarem a sua sociedade. Eles aproximam-se de Efrafa, um conjunto de tocas perto que se encontra debaixo do pulso do Coelho Chefe, e depois da sua captura e um continuada batalha, sobrevivem e iniciam a sua própria sociedade. Podemos desde logo ver paralelismos com a história de LOST. Também os nossos sobreviventes viram-se obrigados a estabelecer uma nova sociedade, uma nova casa, já que o acidente de avião os impediu de voltarem à sua vida normal. Encontram-se agora numa ilha em que a Dharma tentou estabelecer uma nova sociedade, uma sociedade utópica, no caso do agricultor era tudo um disfarce para conseguir manter os coelhos sobre a sua alçada. Os coelhos que chegam iniciam uma guerra, que continuou por um longo tempo, com os coelhos que já lá estavam e tentam salvar as coelhas do que é uma sociedade fascista. Os sobreviventes do Oceanic 815 também desde o inicio dos raptos por parte de Outros que se encontram em “guerra” com estes. No livro os que chegam vêem-se obrigados a raptar membros da outra ninhada para sobreviver, numa situação espelho na ilha são os habitantes da ilha que precisam de raptar membros recém-chegados para tentar salvar a sua sociedade. “O remédio é pior que a doença”, uma entre as várias possibilidades de tradução da frase em latim “Aegrescit medendo” que está escrita no mapa da porta da escotilha, é uma citação directa do Watership Down. É dita pelo Coelho Chefe no capítulo “For El-Ahrairah to Cry”, na parte dois. Ele quer dizer que seria mais fácil para a comunidade ficarem onde estão e esperarem sobreviver à praga que os ameaça, do que evacuar. Existem alguns detalhes também interessantes, no filme animado de 1978 do livro, a cena inicial foca um plano fechado do olho da personagem principal, exactamente como em LOST. No romance, uma coelha que está a morrer deixa o grupo para que acontece longe deles, o conceito de “Viver juntos, Morrer Sozinhos”. O coelho é o animal usado por Ben para enganar Sawyer e é também o seu animal de estimação quando criança. Embora o livro nunca tenha aparecido em LOST (foi mencionado por Locke em “The Man Behind the Curtain), The Wonderful Wizard of Oz tem sido comparado a LOST pelos fãs inúmeras vezes. Os seus paralelismos a LOST tem causado muita especulação no que diz respeito às teorias da série. Trata-se de um livro para crianças escrito por L. Frank Baum em 1900. Depois da sua publicação, o livro original foi editado um número de vezes sob o nome de “The Wizard of Oz”. Foi adaptados em muitos filmes dos quais o mais conhecido é o musical com Judy Garland como Dorothy. Dorothy Gale vive com o seu tio Henry Gale e tia Emily Gale numa quinta no Kansas, que é um dia devastada por um tornado. A casa deles é apanhada nos ventos do ciclone com Dorothy no seu interior. Ela eventualmente aterra no país Munchkin, caindo em cima da Bruxa Má do Este. A Bruxa Boa do Norte dá a Dorothy os sapatos rubi da bruxa má e aconselha-a a ir até à Cidade Esmeralda onde ela pode consultar o Feiticeiro de Oz sobre como voltar para Kansas. Dorothy segue a Estrada de Tijolos Amarelos até à Cidade Esmeralda onde encontra problemas com a Bruxa Má do Oeste e conhece alguns amigos fascinantes que irão mudar a sua experiência em Oz para sempre. “Henry Gale” (o nome inicialmente usado por Ben) é como vimos o nome do tio de Dorothy. Também na história, o Feiticeiro viaja de Omaha, Nebraska, até à terra de Oz num balão de ar quente. Em LOST, um homem de nome Henry Gale estava a tentar atravessar o Oceano Pacifico num balão de ar quente, mas acabou por despenhar-se na Ilha em circunstâncias ainda desconhecidas. Outro referência a nomes, acontece com Tom, um outro a quem Sawyer se referiu como Zeke. Zeke era um dos trabalhadores da quinta de Henry Gale. Benjamin Linus parece estar nos níveis mais altos na hierarquia dos Outros, o que indica que Tom trabalhava para ele. Indo mais além, em ambas a história temos uma personagem que não vimos, quase omnipotente a "mexer os cordelinhos" nos bastidores. Em LOST, é Jacob. No livro, é o feiticeiro ou “o homem por detrás da cortina”. Isto leva-nos directamente ao título de um dos últimos episódios da terceira época “The Man Behind The Curtain”, uma referência ao "manda-chuva" da Cidade Esmeralda que se esconde atrás da cortina projectando uma imagem muito mais elevada de si. Locke suspeita que Benjamin está a orquestrar todos os planos dos Outros enganando-os dizendo ser Jacob quando na realidade seria ele o “homem por detrás da cortina… o Feiticeiro de Oz!”. No episódio “Flashes Before Your Eyes” Desmond vê um homem com sapatos vermelhos ser esmagado por uns andaimes e as suas pernas ficam visíveis nos escombros. Esta cena é muito parecida com a cena em que Dorothy vê a Bruxa Má esmagada debaixo de sua casa apenas como os sapatos rubi a saírem por debaixo da porta. Como podemos ver, a obra literária é uma parte importante no contar de história de LOST, quer seja apenas com referências, leitura por parte das personagens, casualmente largado em cena, o livro e a leitura tem uma forte presença em LOST. Etiquetas: Curiosidades |