The Constant
Iniciamos o episódio no helicóptero. Sayid manifesta preocupação por Lapidus estar a seguir indicações de Faraday e poder não saber onde está o barco. Frank afirma que sabe e pede que Sayid fique e o deixe fazer o seu trabalho quando ele pergunta porque é que está a dirigir-se para uma nuvem carregada. Sayid pergunta a Desmond, que olhava a foto de Penny, porquê é que tendo Charlie dito que ela não sabia do barco ele vai para lá. Desmond responde que vai em busca de respostas. O helicóptero atinge uma turbulência, Frank luta para o manter no ar e Desmond agarra-se à beira da cadeira. Desmond está agarrado à beira da cadeira, um oficial militar grita para todos se porem de pé e fazerem formação. Desmond perturbado demora mais um bocado e o oficial questiona-o sobre o porquê da demora. Este pede desculpas e diz que estava a sonhar com um helicóptero e uma tempestade mas não se lembra do resto. O oficial ordena que todos vão para o pátio em quatro minutos, metade do tempo que o normal graças a Desmond. Já no pátio Desmond explica a um colega, Billy, que nunca tinha tido um sonho tão vivido, o oficial interrompe Desmond e gritando pergunta-lhe se tem algo a dizer. De volta ao helicóptero, Desmond parece em pânico com o que esta a acontecer e tenta freneticamente sair da cadeira. Sayid pergunta-lhe o que ele está a fazer e se está bem. Desmond pergunta a Sayid quem ele é e como sabe o nome dele. Na praia, Jack e Juliet confrontam Charlotte com o facto de ele não estar preocupada por um dia depois o helicóptero ainda não ter chegado ao barco. Contra a vontade de Charlotte, Daniel conta-lhes que a percepção que eles tem de há quanto tempo eles saíram da ilha não é necessariamente igual ao tempo que eles partiram de lá. Jack pergunta o que isso significa. Daniel afirma que tudo correrá bem, desde que Lapidus siga na orientação que ele lhe deu, caso contrário poderão haver efeitos secundários. No helicóptero, Sayid luta para manter Desmond quieto enquanto este desesperado continua a perguntar quem é que eles são. Lapidus pede a Sayid que o aguente mais um pouco pois estão quase a chegar. Aterram então no barco, dois homens aproximam-se e perguntam a Lapidus o que passou pela cabeça dele para trazer sobreviventes do avião para o barco. Desmond, desorientado, pergunta quem são eles e onde está. Quando Sayid tenta interceder por ele, Desmond grita que não é seu amigo, não o conhece de lado nenhum. Um dos homens pergunta quando aquilo começou a acontecer, Frank explica que ele estava bem quando descolaram, foi depois de apanharem mau tempo. Os homens querem levar Desmond para a enfermaria mas Sayid coloca-se no meio, depois de um deles dar a sua palavra que ele poderá ir vê-lo depois do médico, Sayid afasta-se. Desmond vê os homens a aproximarem-se e grita que tudo aquilo é um erro, ele não era para estar ali... Termina a frase no pátio militar. O oficial pergunta-lhe ali aonde e se ele está de pé porque quer correr, ordena então que todo o esquadrão corra. Já no carregamento de um camião, Billy pergunta o que se está a passar com ele. Desmond tenta explicar que quando estava no pátio, durante uns momentos saiu, esteve num barco e depois estava ali outra vez. Billy pergunta se ele esta a fazer aquilo porque quer ser dispensado, perante a negação de Desmond pergunta quem é que mais estava no barco. Desmond recorda-se da foto de Penny e corre para uma cabine telefónica. Um colega que saía dela, empurra-o fazendo deixar cair todas as moedas. Desmond abaixa-se para as apanhar e... depara-se com o chão do barco. Os dois homens, Keamy e Omar, levam Desmond até à enfermaria e fecham-o lá dentro. Desmond bate na porta a gritar quando ouve outro homem na enfermaria a perguntar-lhe se está a acontecer também. Na proa do navio Sayid assiste enquanto Keamy discute com Frank. Sayid aproxima-se dele e pergunta o que está a acontecer a Desmond pois os amigos dele sabem. Frank afirma que se assim é não partilharam com ele. Sayid acha que ele talvez possa explicar como sairam da ilha ao anoitecer e aterraram no meio do dia. Frank volta a afirmar que não sabe o que se passa com Desmond mas que está a tentar ajudá-lo. Sayid pede então o telefone. Frank pede a arma dele em troca. Os dois fazem a troca e Sayid liga para Jack. Sayid explica a Jack que algo aconteceu durante o voo e agora Desmond está na enfermaria do barco. Daniel pergunta-lhe se Desmond esteve recentemente exposto a altos níveis de radiação ou electromagnetismo mas ninguém lhe sabe responder. Ele então explica que nao sabem porquê mas entrar e sair da ilha pode deixar algumas pessoas um bocado confusas. Juliet pergunta se é amnésia, Daniel diz que não. Na enfermaria, Desmond fala com o homem, Minkowsky, que por momentos parece estar em estado catatónico. Ele reage e diz que acabou de estar numa Roda Gigante. Entra então um médico de nome Ray, Minkowsky grita-lhe que não está louco, que aquilo está a acontecer a Desmond e também lhe irá acontecer a ele. Ray não lhe responde e dá-lhe uma injecção que seda Minkowski. Desmond pergunta o que está a acontecer e que ele não lhe vai dar nenhuma injecção. Ray afirma que não, que está tudo bem, apenas quer verificar os olhos dele para puder ajudá-lo. Ray aproxima-se, começa a examiná-lo e pergunta qual a última coisa que Desmond se lembra. Desmond olha para o chão e está a apanhar as moedas para o telefone. Ele liga para Penny, diz que algo está a acontecer com ele e precisa de a ver. Penny nega-se a encontra-lo, que está a refazer a vida dela desde que ele acabou tudo e foi para a tropa, não quer que ele a procure e avisa-o que mudou de apartamento. Desmond pede que ela não desligue porque precisa dele. Termina a frase já na frente de Ray. Este pergunta se ele acabou de experimentar alguma coisa. Antes de Desmond ter tempo de responde Frank e Sayid entram na enfermaria com o telefone. Ray diz que eles não deviam estar ali e tenta impedir que Desmond fale com Faraday. Sayid coloca-o contra a parede e manda que Frank entregue o telefone, Ray toca o alarme. Daniel pergunta a Desmond em que ano ele acha que está e aonde está quando não está ali. Desmond afirma que é o ano de 1996 e está em Camp Millar, um regimento real escocês. Daniel pede-lhe que assim que tenha outra experiência, apanhe um comboio, se dirija para a Universidade de Oxford, Departamento de Física da Faculdade Queen e o vá encontrar. Jack pergunta a Daniel porque Desmond acha que está em 1996 mas este diz que não sabe, por vezes as separações são de anos e outras de horas. Jack ficar perplexo com a possibilidade de aquilo já ter acontecido antes. Daniel volta-se novamente para Desmond, com Sayid a tentar impedir a entrada de Keamy e Omar, e diz-lhe que quando se encontrarem na faculdade ele tem de lhe dizer para programar o dispositivo para 2.342 com uma oscilação de 11 Hz e que caso os números não o convençam ele tem de lhe dizer que sabe da Eloise. Keamy e Omar finalmente conseguem arrombar a porta e tiram o telefone da mão de Desmond. Ainda com o telefone da cabine na mão, Desmond volta a 1996. Vai até à faculdade à procura de Daniel e diz-lhe que acha que esteve no futuro. Este primeiro pensa tratar-se de uma brincadeira dos seus colegas mas perante os números e a menção de Eloise leva Desmond até ao seu laboratório secreto. Daniel insere os números num dispositivo e coloca Eloise, um rato, sob a radiação dele para desconecta-la do tempo. Desmond pergunta se o que estão a fazer está a mudar o futuro mas Daniel que isso é impossível. Momento depois abre a porta de um labirinto e vê entusiasmadíssimo enquanto ela chega sem dificuldade ao fim dele. Desmond não percebe o porquê de tanta festa, Daniel explica que terminou o labirinto de manhã e só vai ensinar Eloise o caminho dali a uma hora. Desmond pergunta se ele mandou Eloise para o futuro. Daniel diz que não, mandou a sua consciência, sua mente. Desmond pergunta-lhe em que é que isso o ajuda, Daniel pergunta-lhe se ele não veio para o ajudar a ele mas Desmond afirma que a única coisa que sabe dele é que foi parar numa ilha. De volta para o cargueiro, Frank pede que todos tenham calma, que Daniel queria falar com Desmond. Keamy revolta-se por Frank ter deixado Daniel falar com Desmond e manda-o ir ter com o capitão pois este quer falar com ele. Saem da enfermaria e deixam Desmond e Sayid lá. Minkowski ouve o nome de Desmond e conta-lhe que era o oficial de comunicações, todas as chamadas passavam por ele. De vez em quando tinha a luz de chamada de entrada a piscar no painel dele, tinham ordens restritas para não as atender. As chamadas eram de Penelope Widmore. De novo no laboratório, Desmond pergunta o que aconteceu. Daniel explica que ele esteve fora por 75 minutos e pergunta quantos foram no futuro, cerca de cinco responde Desmond. Daniel explica que sempre que salta para o futuro fica-lhe mais difícil voltar. Desmond olha para Eloise e percebe que ela morreu. Daniel explica que ela deve ter tido um aneurisma, que o cérebro dela deve ter tido um curto-circuito. Os saltos entre passado e futuro, ela eventualmente deixou de conseguir identificar qual era qual, não tinha âncora, algo familiar nos dois tempos. Explica a Desmond que todas as equações no quadro são variáveis, aleatórias, caóticas. Cada equação precisa de estabilidade, algo conhecido, e chamado de constante. Desmond não tem constante, no futuro nada lhe é familiar. Se quer parar com aquilo, tem de arranjar algo lá, algo que lhe seja muito importante e que também exista em 1996. Desmond pergunta se a constante pode ser uma pessoa. Daniel acha que sim, desde que estabeleça algum tipo de contacto. Desmond tenta ligar para Penny para ouve uma mensagem de que o telefone foi desactivado. Saiu a correr para ir ter com ela mas cai na escadas. Sayid pergunta se ele está bem. Este afirma que precisa da ajuda dele para ligar para Penny. Minkowski explica que há dois dias, alguém sabotou todo o equipamento. Se ele não tivesse preso levava-os até lá e talvez o pudesse consertar. Sayid solta-o da cama mas pergunta como sairam dali, Minkowski aponta para a porta que está aberta e afirma que eles devem ter algum amigo ali. Desmond repara que Minkowski está a sangrar do nariz. Nas escadas, Desmond acorda e corre até a um leilão onde está a decorrer a licitação do diário do Imediato do navio Black Rock, cujo conteúdo nunca foi revelado para ninguém além da família do vendedor, Tovard Hanso. O diário é rematado por Charles Widmore. Na casa-de-banho, Desmond fala com Charles querendo obter informações de Penny. Charles afirma que houve um tempo que tinha a certeza que caso Desmond a pedisse em casamento, ela aceitaria mas felizmente a covardia dele prevaleceu. Desmond pergunta-lhe porque é que ele o odeia tanto, Charles afirma que não é ele quem o odeia e, antes de sair, dá-lhe a morada de Penny para que possa ela mesma lhe dizer. Desmond aproxima-se do lavatório que Charles deixou aberto e mais uma vez cai para o lado. No barco, Desmond pergunta a Minkowski como lhe aconteceu a ele. Ele conta que estavam ali ancorados à espera de ordens. Ele e Brandon, outro dos tripulantes, decidiram pegar no barco do apoio para verem a ilha mas quando Brandon começou a agir de maneira estranha tiveram de voltar. Brandon já morreu. Já na sala de comunicações, Minkowski salta novamente para o passado, quando tenta voltar não o consegue e morre. Sayid pergunta a Desmond se tem o número para qual ligar mas este diz que não, quando olha para o calendário e vê que estão na véspera de Natal de 2004. Desmond começa a sangrar pelo nariz. Desmond acorda rodeado por água do lavatório e vai a correr à morada que Charles lhe deu. Penny não quer recebê-lo mas Desmond insiste que só precisa do número de telefone dela, precisa que ela o ouça. Mesmo sabendo que pode parecer ridículo, Desmond explica-lhe que dali a oito anos vai precisar ligar-lhe e para isso precisa do número dela. Penny fica perplexa mas Desmond insiste que se existe alguma parte dela que ainda acredita neles que tem de fazer isso. Ela pergunta o que o impedirá de lhe ligar naquela noite, Desmond afirma que não lhe ligará por oito anos, no dia 24 de Dezembro de 2004. Penny dá-lhe o número quando ele afirma que irá embora mas antes ele pede-lhe que nunca mude de número e que confie nele. Quem responde é Sayid, que diz confiar nele mas que sem o número não adianta nada. Desmond revela o número e Sayid entrega-lhe o telefone dizendo que não sabe quanta bateria tem. Sayid marca o número e passa-lhe o telefone. Passando um tempo de espera, Penny atende. Ao mesmo tempo vemos Desmond do passado a sorrir. Desmond fica extasiado por Penny ter atendido. Penny pergunta onde ele está. Desmond explica que está num barco e tem estado numa ilha, Sayid apercebe-se que ele recuperou a memória. Penny explica a Desmond que tem estado à procura dele nos últimos três anos, que sabe sobre a ilha e que tem pesquisado. Quando falou com Charlie, foi quando teve certeza que ele estava vivo e ela não estava louca. Desmond diz-lhe que sempre a amou e os dois prometem que não vão desistir de se procurem para voltarem para junto um do outro. A chamada vai abaixo. Sayid pede desculpa por não ter tido mais tempo e se ele agora está bem. Desmond diz que foi o suficiente e que está perfeito. Na ilha, vemos Daniel a percorrer o seu diário. Nos seus apontamentos de 1996 ele vê que acrescentou uma nota, “Se algo der errado, Desmond será a minha constante”. Como habitualmente, podem efectuar o download do episódio consultando o fórum ou assistir no próprio fórum. Participem também no tópico de discussão do episódio e no tópico de análise/crítica. |
DAMON LINDELOF: Nesse aspecto, a pulseira da Naomi no episódio do Sayid é um ponto essencial. Recebi alguns e-mails em que me perguntavam se havia alguma relação entre a pulseira da Naomi e a pulseira usada pela mulher que o Sayid matou no seu flash-forward. Não existe qualquer conexão. Às vezes uma pulseira é apenas uma pulseira. Pensamos que seria uma forte referência emocional para o Sayid: a pulseira da Elsa fá-lo lembrar-se da Naomi. Mas algumas pessoas interpretaram de outra forma, pensando “Haverá aqui mais alguma coisa?”. Poderemos ter de fazer alguma referência a isso.
CUSE: Mas isto é um comentário em relação à forma como os flash-forwards funcionam. Preocupava-nos muito se os flash-forwards iriam ter o mesmo impacto emocional que os flashbacks porque as pessoas percebem facilmente o mecanismo em que funcionam as estórias contadas em flash-back. Penso que a pulseira é um bom exemplo de como as pessoas se podem perder.
DOC JENSEN: Algumas pessoas perguntam-se mesmo se as estórias contadas em flash-forward são apresentadas cronologicamente. Por exemplo, a cena de abertura do flash-forward do Sayid – na qual ele mata o italiano no campo de golfe nas Seychelles – ocorreu antes ou depois da sua infeliz relação com a Elsa?
LINDELOF: Havia uma fala nesse episódio em que o Sayid dizia “Acabei de regressar das Seychelles” que clarificava isso por completo. Mas perdemo-la na montagem porque a cena durava quatro minutos. Quando estamos a apresentar uma narrativa, apresentamo-la cronologicamente.
CUSE: Lost é denso e complexo, mas estamos conscientes dos limites. Se estamos a saltar no tempo, não vamos também saltar na ordem da narrativa dentro do salto temporal.
LINDELOF: Nós escrevemos o episódio do Sayid antes dos Red Sox ganharem as World Series pela segunda vez. Portanto quando o Jack pergunta ao Frank Lapidus “Os Red Sox ganharam mesmo as World Series?” e o Lapidus responde “Nem me lembres disso.” alguns espectadores perguntaram-se “Será possível que o Lapidus seja na verdade de 2008?”. Mas têm de perceber: não estamos a escrever a série só para o agora. Estamos a escrevê-la para que, daqui a 20 anos, quando estiverem a ver o DVD, não têm de entender os pormenores em relação às vitórias dos Red Sox, apenas que eles não ganhavam há muito tempo.
CUSE: Mas nessa altura não haverá leitores de DVD, Damon.
LINDELOF: Será descarregado directamente para o cérebro.
DOC JENSEN: Outra teoria popular em circulação é a de que estamos a lidar com realidades alternativas. Por exemplo, há pessoas que pensam que os flash-forwards são apenas hipóteses de futuro, e não um futuro definitivo.
CUSE: Nós queremos que as pessoas acreditem nos riscos da série. O problema com as realidades alternativas é que nunca sabemos quando o tapete nos será retirado debaixo dos pés. Nós queremos que o público acredite que o risco é real, e isso seria prejudicado se nos baseássemos em realidades alternativas como válvula de escape.
LINDELOF: No Heroes, onde temos um futuro apocalíptico que se quer evitar, isso é possível. Mas aqui estamos a fazer o oposto. Estamos a ir na direcção de um futuro em que o Jack é miserável e quer regressar à ilha. Tudo o que apresentamos ao público tem de ser factual.
CUSE: Queremos que o público acredite que aquilo é O futuro. Não queremos que as pessoas pensem “Bem, como há cinco alternativas possíveis não me vou envolver no que está a acontecer com as personagens”.
LINDELOF: Não vamos dizer que somos contra o quebrar do contínuo espaço-temporal. Somos muito a favor. O Carlton e eu somos totalmente a favor da quebra do contínuo espaço-temporal! Mas somos ANTI-paradoxo. Os paradoxos criam problemas. No Heroes, a personagem do Masi Oka regressa do futuro para dizer “temos de evitar que Nova Iorque seja destruída”. Mas se eles conseguirem que Nova Iorque não seja destruída, o Masi Oka não pode regressar do futuro para os avisar porque o Hiro do futuro já não existe. Certo? Portanto, quando começamos a pensar nisto para o Lost acabamos por dizer “A série já é confusa que chegue”. Ter personagens a viajar no tempo é algo que tem de ser lidado com muito cuidado.
CUSE: Por exemplo, o quinto episódio desta temporada lida com viagens no tempo e passa-se em períodos de tempo diferentes. Foi uma estória difícil de construir. Mas mantemo-nos fiéis à nossa regra: não há paradoxos.
LINDELOF: Mas tem sido estranho. Quando voltamos da greve tínhamos de estabelecer uma linha mestre temporal do futuro, desde o momento em que os Oceanic 6 deixam a ilha até ao momento em que os flash-forwards acabam.
CUSE: E o difícil foi criar uma linha temporal quando temos uma quebra no contínuo espaço-temporal: como é que se ilustra este tipo de linha temporal quando o tempo não é, de todo, linear? Isto levou-nos uma manhã inteira…
LINDELOF: …só para debater toda a física quântica envolvida nisto tudo.
CUSE: Tivemos de trazer um ilustrador profissional. [Carlton e Damon riem-se.]
DOC JENSEN: Tenho a forte impressão de que vocês estão a gozar comigo nalgumas das respostas.
LINDELOF: Talvez.
CUSE: Mas sentimos que este é um momento em que podemos desafiar o público a criar uma cronologia: como é que a estória do Sayid se relaciona com a estória do Jack, etc. Vamos adicionando peças ao mosaico ao longo das próximas cinco horas que deverão deixar o público com uma percepção razoavelmente clara sobre o que aconteceu desde que os Oceanic 6 foram resgatados ou regressaram ao mundo real e a cena entre o Jack e a Kate no final da terceira temporada.
DOC JENSEN: Como descrevem a estrutura geral da temporada?
CUSE: Este ano é tudo acerca da relação dos Losties com a malta do cargueiro. Desde o primeiro dia, o objectivo deles foi sair da ilha. Agora os nossos heróis vão acabar por defender essa mesma ilha que queriam deixar. O futuro indica-nos que eles têm uma relação mais profunda com a ilha do que eles próprios se apercebem.
LINDELOF: O grande mistério que se levanta esta temporada é como é que alguns conseguiram sair da ilha, e o que aconteceu aos que não saíram. Esse é o mistério a que devemos responder no final da temporada, para além, claro, de quem está no caixão. Nós podíamos prolongar a estória do caixão durante toda a quinta temporada. Mas essa foi uma das coisas que decidimos quando voltamos para trabalhar nos novos episódios: definitivamente, temos de mostrar quem estava no caixão. Esta é a estrutura primária da temporada. Como consequência disso, alguns elementos temáticos – o destino, ou os elementos sobrenaturais, como o monstro e a cabana do Jacob – serão certamente incluídos mas não tanto como as questões que nos interessam esta temporada: porque é que algumas personagens partem? Como o fazem? Quais as circunstâncias em que o fazem? Porque é que alguns ficam? Foi uma escolha? Foi um acidente? Ambos?
CUSE: Há questões de muito maior dimensão envolvidas. A experiência do Daniel Faraday com o projéctil no episódio do Sayid, que estabeleceu um diferencial temporal na ilha, foi uma cena muito importante porque prepara o terreno para coisas que estão para vir no futuro da série. Descobrimos muito sobre a relação das personagens com a ilha, mas agora vamos descobrir a sua relação com o mundo exterior depois de terem estado na ilha. Esta é uma importante nova ideia para a série.
DOC JENSEN: O que se passa com a cabana do Jacob? Está sempre a mudar de sítio. E o Hurley viu o pai do Jack na cadeira do Jacob.
CUSE: Definitivamente vamos ver mais da cabana e foi duma observação fantástica alguns fãs repararem na presença do pai do Jack na cabana. Vamos dar mais algumas luzes sobre isso mais tarde esta temporada. Este é o tipo de coisas que vamos ver muito com o avanço da série, mas no que toca aos cinco episódios finais da temporada esse não é o tipo de perguntas a que vamos responder.
DOC JENSEN: O Hurley também viu um olho a olhá-lo de volta. Deveremos perguntar-nos a quem pertence esse olho?
LINDELOF: Devem, sem dúvida.
CUSE: Uma das definições de omnisciência é estar em mais que um lugar ao mesmo tempo.
LINDELOF: Sempre pensei que se pronunciava omni-ciência.
CUSE: Bem, já aprendeste algo novo hoje.
DOC JENSEN: A minha pergunta da praxe: vamos lidar com os esqueletos do Adão e da Eva esta temporada?
LINDELOF: Não. Mas iremos fazê-lo mais tarde.
DOC JENSEN: Teremos mais intriga relacionada com a Iniciativa Dharma esta temporada?
LINDELOF: O público ainda não viu a sua última estação, mas as maiores questões, como a purga, isso é mais para a temporada cinco.
CUSE: Nós mostramos o vídeo de orientação da Orquídea no Comic-Con, e isso é importante para esta temporada.
DOC JENSEN: Alguém no meu escritório queria perguntar-vos algo: não foi demasiado conveniente a Penny estar a ligar para a ilha no exacto momento em que o Charlie desligou o bloqueio das transmissões no final da terceira temporada?
LINDELOF: Boa pergunta. O que nós sempre imaginámos é que a Penny tem um marcador automático no quarto de sua casa, e em vários lugares, constantemente a enviar uma espécie de transmissão para as coordenadas que foram reveladas no final da segunda temporada. Portanto, quando o Charlie o desligou, o seu marcador automático indicou que a chamada podia ser estabelecida.
DOC JENSEN: Agora que eles têm um telefone satélite, porque é que o Desmond não pode simplesmente ligar à Penny?
LINDELOF: O Lapidus explica as regras do telefone e que chamadas pode ou não fazer no episódio 5.
DOC JENSEN: O episódio do Sayid revelou-nos que o Ben tem uma lista de pessoas más que devem ser executadas. Que nos podem dizer sobre eles?
CUSE: Saberemos, no final da temporada, que haverá duas explicações alternativas de como o Oceanic 815 está na fenda no fundo do oceano. E não será claro em qual das estórias se deve acreditar. [N.D.R.: Para clarificar, Cuse está a dizer que o mistério da lista do Ben está ligado aos destroços.]
LINDELOF: As duas estórias serão apresentadas e ambas terão factos legítimos apresentados a seu favor.
CUSE: O acto de pegar num avião, enchê-lo de corpos e pô-lo no fundo do oceano denota que estamos a lidar com um grupo muito poderoso. Devemos ficar preocupados com as pessoas envolvidas num acto como este, seja qual for o cenário.
DOC JENSEN: É um destes grupos o The Maxwell Group, um grupo misterioso introduzido no jogo de realidade alternativa Find 815?
LINDELOF: Não podemos dizer que qualquer material do Find 815 seja parte da estória. O Maxwell Group foi algo criado pela Hoodlum. No Outono passado apresentamos-lhes a ideia de que, no início do segundo episódio, uma expedição de procura de destroços iria encontrar destroços do Oceanic 815. A partir disso, eles criaram uma estória – e uma estória secundária – que levam a esse acontecimento. [N.D.R.: Antes da greve, os produtores e a equipa de marketing da ABC contrataram uma empresa australiana chamada Hoodlum para produzir o Find 815].
CUSE: Demos a moldura criativa, mas não supervisionámos a sua execução.
LINDELOF: Mas eu subscrevo uma ideia: o Christiane I, que na série foi responsável por encontrar o Oceanic 815, estava de facto à procura do Black Rock. Nós estabelecemos isso como facto na série – mas os donos do barco poderiam estar à procura de algo mais que o Black Rock.
DOC JENSEN: Então o que é oficial e o que é que não é oficial? O que é parte da estória?
CUSE: Os mobisódios são. O vídeo da Orquídea é. O jogo de computador não. É injusto que o público tenha de recorrer a fontes secundárias para verdadeiramente entender a série. Mas mesmo algo como os mobisódios, que são parte da estória, não são essenciais para entender a série. Todo esse material é apenas um bónus.
LINDELOF: A única estória indispensável é a série em si.
DOC JENSEN: Vocês deram, de facto, nomes interessantes à malta do cargueiro. Como devemos interpretá-los?
LINDELOF: Com o Miles Straume, nós achamos que seria porreiro se o nome soasse como “maelstrom” (N.D.T.: forte remoinho de água). Charlotte Lewis é uma referência óbvia a C. S. Lewis e uma pista importante sobre os lugares a que vamos no final da temporada.
CUSE: E uma pista importante sobre a importante e ainda por contar estória da Charlotte.
LINDELOF: Um dos nossos produtores tem tentado impor-nos o “Frank Lapidus, piloto de helicóptero” há anos. Daniel Faraday é uma referência mais do que óbvia a Michael Faraday, cientista e físico.
CUSE: Tal como Minkowski, que está no cargueiro. Estes nomes são pistas relacionadas com a questão do espaço/tempo que serão importantes mais para a frente.
DOC JENSEN: Para que fique registado, o termo oficial é “malta do cargueiro”?
LINDELOF: Eu gosto de “malta do cargueiro” porque ficamos a pensar se haverá um álbum por aí com todos eles na capa vestidos com as roupas dos The Mamas And The Papas.
CUSE: “Malta do cargueiro” é bastante benigno. E eles não são as únicas pessoas naquele cargueiro. Vamos conhecer mais algumas pessoas no cargueiro que têm outro nome e em relação aos primeiros essa malta do cargueiro são muito…hmmm…malteses.
DOC JENSEN: E o Matthew Abbadon?
LINDELOF: Abbadon foi um nome que desenterrámos na Wikipédia. Quando damos nomes às personagens, muitas vezes fazemos pesquisas na internet se queremos fazer referência a determinados termos ou se queremos usar algo da mitologia Grega ou da Mitologia Nativa Americana como “quem foi o deus do trigo?”.
CUSE: Não acredito que estás a contar ao Jeff acerca do deus do trigo agora! Toda a segunda metade da quarta temporada é acerca do deus do trigo!
LINDELOF: A tua alcunha em Harvard não era “o deus do trigo”?
CUSE: Não, era o deus do centeio.
LINDELOF: Percebe-se porque fiz confusão.